ASSASSINATO DO SEGUNDO SARGENTO DA PMSP
ANTÔNIO APARECIDO POSSO NOGUERÓ
Matéria pesquisada e editada por Maria Joseíta Silva Brilhante Ustra
No dia 20 de fevereiro de 1970, quatro policiais militares quando investigavam o roubo de um carro, chegaram a uma casa na região de Atibaia. Nem desconfiavam que aquela casa era, na verdade, um "aparelho" da VPR.
Antônio Raimundo Lucena
Lá moravam Raimundo Lucena, sua mulher Damaris Lucena e seus três filhos menores. Levavam a vida de uma família, aparentemente, comum - os filhos no colégio, Damaris saindo com frequência e Lucena, recluso, mais dedicado em manter os fuzis em bom funcionamento.
O movimento de carros na casa chamava atenção dos vizinhos, mas a própria Damaris declarou, em entrevista a Luiz Maklouf Carvalho, no livro Mulheres que foram à luta armada "Ate hoje eu não sei direito como a casa caiu . Não sei se delataram ou se a polícia estava atrás de bandidos". Sei que o aparelho era fechado, pouca gente tinha conhecimento dele. É possível que a ligação com a questão política tenha sido feita depois"
Um dos quatro policiais militares bateu na porta . Foram atendidos por Damaris. Pediram que chamasse seu marido. Lucena veio até a porta vestindo a camisa, já sabendo por Damaris que era a polícia.
Os policiais pediram os documentos do carro. Lucena disse que iria buscá-los. Como o carro fora roubado pela VPR, evidentemente, estava em situação ilegal. Além do mais , segundo Luiz Maklouf de Carvalho, no aparelho estavam guardadas boa parte das armas que o capitão Lamarca roubou de Quitaúna. A família era toda envolvida com a luta armada . Ariston Lucena, o filho mais velho, já estava na área de treinamento que estava sendo montada por Lamarca no Vale da Ribeira.
Segundo relato de Damaris a Maklouf, "Os FAL que estavam lá em casa tinham que ir pro Vale - e era eu que fazia esse serviço. Tinha muita arma lá em casa. Só de bala dava uma caixa de 500 quilos (...) os contatos era o Mario Japa e o Monteiro(...) Sabia que era arriscado - mas eu fazia com gosto.(...)"
Era portanto um "aparelho" da VPR dos mais importantes. Lá foram encontrados: material cirúrgico, 11 FAL, 24 fuzis, 4 metralhadoras, 2 carabinas, 2 espingardas, 1 winchester, explosivos e cartuchos diversos.
No depoimento de Damaris Lucena a Luiz Maklouf Carvalho, também está registrado o seguinte:“Tinha um FAL por cima da mesa, coberto, que ficava sempre à mão. O Doutor pegou o FAL e atirou.”
Observação: Doutor, era o codinome de seu marido.
Temendo ser preso, Lucena decidiu reagir. Disparou uma rajada de fuzil nos policiais, matando instantaneamente o sargento PM Antônio Aparecido Posso Nogueró e ferindo gravemente o segundo sargento Edgar Correia da Silva. Os outros dois policiais reagiram. Lucena foi morto e Damaris presa.
As crianças, depois de várias tentativas de colocá-las em abrigos, onde não eram aceitas porque os responsáveis tinham medo de que um comando tentasse resgatá-los ( palavras de Kito Lucena - 9 anos na época, no mesmo livro) acabaram abrigados na FEBEM.
Em pouco tempo, houve o sequestro do Cônsul japonês e Damaris e seus filhos, juntamente com outros quatro terroristas, inclusive Mario Japa, foram enviados para o México.
No pedido dos sequestradores os filhos de Damaris encabeçavam a lista. Passaram 10 anos em Cuba, voltando ao Brasil depois da Lei de Anistia.
Com o tempo, as histórias vão mudando
A folha de São Paulo de 14/01/2010 , sob o título de: Comissão de Anistia indeniza filhos de políticos exilados publica:
(...) "Ao todo, 16 processos foram julgados e deferidos ontem, como o da jornalista Angela Lucena, 43. Ela e os dois irmãos viram, ainda crianças, o pai ser assassinado com um tiro na cabeça.
Damaris Lucena, mulher de Antônio
Raimundo Lucena, foto da Revista ISTO É
Passaram cerca de dez anos com a mãe, Damaris Lucena, no exílio em Cuba. "Não somos pessoas amargas, mas é preciso não esquecer que existiu tortura neste país", disse"!
Damaris Lucena, mulher de Antônio Raimundo Lucena, foto da Revista ISTO É
Já na reportagem publicada pela revista ISTO É , de 10/12/2010 consta o seguinte a respeito da morte de Lucena:
" O documento do IML obtido por ISTOÉ, que comprova que os restos mortais de Lucena estão em Vila Formosa, é o de número 865/70. A requisição de seu exame foi encaminhada com a palavra “Terrorista” escrita ao alto, em letras grandes, grifada, circulada e cercada por quatro traços. Quem caprichou foi o delegado Jair Ferreira da Silva. Ele escreveu que Lucena morreu em tiroteio. O IML atestou que a causa mortis foi “anemia aguda”.
O que queriam os autores da reporgem da revista ISTO É? Que os companheiros da equipe do Sargento Nogueró não reagissem? Ninguém nega que Lucena foi abatido a tiros depois de matar com uma rajada de fuzil, um sargento e ferir outro. A um leigo parece que a causa da morte, por anemia aguda, se enquadra , perfeitamente, com o que se passou naquele 20 de fevereiro. Por que o espanto da revista quanto ao que o delegado Jair Ferreira da Silva escreveu, quando afirmou que Lucena foi morto num tiroteio? Não foi isto que aconteceu? Por que a revista não cita os nomes dos dois sargentos atingidos por Lucena?
Segundo ainda a mesma reportagem o documento do IML que comprova que os restos mortais de Lucena estão em Vila Formosa é o de número 865/70. Portanto Lucena não foi enterrado clandestinamente. Talvez, por força da lei, tenha sido enterrado com o nome falso que usava.
Fontes:
Orvil
Ternuma
Revista ISTO É
Folha de São Paulo
A Verdade Sufocada - Carlos Alberto Brilhante Ustra
Mulheres que foram à luta armada - Luiz Maklouf Carvalho
PARABENS SENHORA Maria Joseíta Silva Brilhante Ustra.
PR (12-17): “QUEM DIZ A VERDADE PROCLAMA A JUSTIÇA, MAS A TESTEMUNHA FALSA DIZ MENTIRAS”.
O GRUPO GUARARAPES REPASSA O DOCUMENTO
PARA QUE A VERDADE SEJA SEMPRE CONHECIDA.
REPASSE, POR FAVOR!